Emoção e arte – a fórmula da infância na E.M.D.L.R.A.

No último sábado, 22/09, tive a honra e o privilégio de ter sido convidado a participar do 12º Seminário da Infância, cujo tema era “No mundo que eu quero pra mim, qual educação preciso oferecer aos meu alunos?”, promovido pela Escola Municipal Desembargador Loreto Ribeiro de Abreu, situada no bairro Ribeiro de Abreu, Belo Horizonte. Minha presença lá justificava-se na contribuição com uma palestra sobre Relacionamento e Comunicação, bases do meu livro tempo.com – A comunicação esquecida em tempos de Internet, para os professores e pais ali presentes.

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Com atividades previstas para início às 7:30 da manhã, pus-me a caminho de uma experiência que jamais tinha imaginado que iria vivenciar.  Ao adentrar os portões da escola, comecei a impressionar-me com as professoras da escola que, com a organização e rapidez das formigas, davam os arremates finais na belíssima decoração, feita a partir da participação valorosa de todos os alunos, endireitavam as cadeiras, aqueciam as vozes angelicais do coral infantil num cantinho aqui, um teste final no som ali… tudo estava prestes a começar.

Em cada canto, em cada pedaço de arte espalhado pela escola, eu pude ver o que eu gostaria de ver em toda escola municipal, estadual e, até mesmo, particular. Vi, antes de tudo, o afeto, o acolhimento, a condução bem feita de pequenos seres que anseiam pelo novo, pela descoberta. E a condução para um pequenino é tudo para a organização de sua estrutura psicossocial, na minha humilde opinião. Vi expressões de arte que jamais imaginei ver em uma escola localizada em uma região tão desprovida dos olhos do governo, no trato social e econômico, mas não desprovida dos olhos de sua direção e corpo docente, no trato afetivo, cultural e educacional. Trabalhos e inserções baseados em Rubem Alves, Cândido Portinari, Romero Brito e até do húngaro Victor Vasarely, figuras normalmente vistas e apreciadas em locais e situações mais seletivas, passavam a impressão de uma galeria de arte. Tão grande quanto foi minha surpresa em ver tais personalidades ali apreciadas, foi a emoção a que fui acometido antes da minha participação. Rememorei minha falecida avó num “fuxico”, uma trouxinha de pano bordada junto a uma peça/toalha em tecido, cuidadosamente esculpida por várias duplas de alunos da escola. Vi o isopor virando peça de arte em forma de móbile, caixas de pizza transformadas em mandalas coloridas; vi copos, molas, bolas de isopor, funis e pratinhos de bolo tomarem formas e funções que não vemos na beira do esgoto das calçadas da cidade. Aquela foi a primeira vez que desejei que um pedaço de isopor durasse muitos anos na natureza, porque estava impregnado de sentimento e expressão artística. Também, pela primeira vez, me emocionei, de fato, ao escutar a execução do hino nacional brasileiro, entoado por vozes infantis, que não só enchiam o hino de graça e ternura, mas também faziam ficar mais leves e puras as bandeiras de Belo Horizonte, Minas Gerais e do Brasil, que exibiam estendidas em suas pequenas mãos. Aquela cena me transportou no tempo, levando-me à minha fase nos ensinos primário e fundamental, do sistema antigo, onde ainda estudávamos O.S.P.B. (Organização Social e Política Brasileira) e E.M.C. (Educação Moral e Cívica), cantávamos o hino nacional e fazíamos uma oração pedindo a Deus proteção para o dia e agradecendo a Ele pelas belezas da vida. Emoção assim, fazia tempo que eu não sentia, a ponto de me desconcentrar para a tarefa que me aguardava – a palestra.

Com uma grande responsabilidade de dizer algo relevante às pessoas que ali se dispuseram a escutar, por mais de 2 horas, vi que as pessoas que trabalhavam ali já estavam me ensinando muito mais do que eu supostamente imaginaria que pudesse “ensiná-los”. Na verdade, houve ali uma rica troca de informações, sentimentos, conhecimento e generosidade; tudo ali exposto e disponível para quem quisesse absorver.

Saí de lá com a certeza de que seria um privilégio ver meu filho, que ainda nem fala, estudar e aprender com aquelas pessoas. Portanto, posso dizer, sem titubear, e porque estudei a vida inteira em escola pública, com exceção da faculdade, numa época em que isso era a realidade para a maioria das famílias,  que a Escola Municipal Desembargador Loreto Ribeiro de Abreu é, no mínimo, para o menos agradecido dos seres, um recanto de saber para crianças e uma caixa de memórias vivas para velhos alunos se lembrarem de um tempo em que a educação pública ainda era uma estrada aberta que levava a possibilidades reais de conquista humana.

Sobre João Viégas

Professor, consultor e especialista em Comunicação, autor e editor do livro 'tempo.com - A comunicação esquecida em tempos de Internet'.
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8 respostas para Emoção e arte – a fórmula da infância na E.M.D.L.R.A.

  1. Heloisa Velloso coutinho disse:

    João, que lindo post! Fiquei emocionada lendo e me transportando para o meu tempo de escola municipal. Eu estudei a minha vida inteira em escola pública, inclusive no terceiro grau. Tenho ótimas lembranças.
    Agora, aqui vai o meu sentimento ao terminar de ler o post… tive vontade de saber como foi a sua participação depois de tantas emoções.
    Beijo

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  2. Fella Bródi disse:

    Cara, adorei! Parabéns pelo convite! Tenho certeza que a experiência e a palestra foram ótimas.

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  3. Cristina Renata Gauzzi Ranieri Mendes disse:

    João, realmente foi um dia de muitas emoções. Eu que acompanho a escola há 5 anos mais ou menos, sempre me emociono com as exposições, seminários, aulas, postura, comprometimento e principalmente com o afetivo de toda a escola. Lógico que temos alguns percalços, mas os professores, direção e coordenação sempre procuram resolvê-los da maneira mais humana, solidária e atenciosa possível. Adorei a palestra. Sua fala foi tudo o que a escola ansiava. Agradeço por ter podido ter sido expectadora. Abraços, Cristina

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    • Cristina, que bom, fico feliz que possa ter contribuído e que tenha sido relevante pra vocês. Os percalços são o quesito necessário para a superação, não é mesmo? Vi que dedicação não falta lá para avançar, portanto, somente o trabalho e o tempo irão transformar tudo. Abraço!

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  4. Juliano Rober disse:

    Correção. a escola fica localizada em Belo Horizonte, não Santa Luzia

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